O preço e o valor.

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Como de costume, até hoje, meu pai Expedito Souza, além de um bom piadista é um excelente contador de histórias. Uma destas envolve de forma bem criativa o que gostaria de tratar neste artigo de hoje. Não sei ao certo a origem da piada, ou mesmo, dessa história, mas ela pode ser entendida de várias formas, e espero que ache a sua.

No interior do Brasil, sempre temos a feira livre nas cidades como o ponto forte do comércio, e nesta, em especial tinha um vendedor de passarinhos que apresentava seu criatório com os mais belos periquitos da região. Certo dia, em meio ao feijão, farinha e mais diversos produtos, fiquei prestando atenção aquele vendedor, atento as conversas e tratos comerciais com os seus clientes. O astuto vendedor chamou a atenção dos clientes ao redor, pedindo um instante, já que apresentaria seus melhores periquitos. Estes, eram três, um mais belo que o outro. O amarelinho, cantava que era uma beleza, de forma bem suave, atraindo os fregueses com uma cantoria inebriante. Em meio a essa cantoria, o vendedor, no auge da apresentação lançava seu preço. ‘’Este a esquerda, é o nosso periquito de Encontro Amarelo, lindo, não é? Como canta! Apenas 100 reais’’. Após a primeira apresentação com a atenção da feira toda aumentando para os periquitos, o vendedor, antes mesmo de receber propostas pelo primeiro periquito, apresentou o da direita, uma outra linda espécie, um periquito australiano, todo azulzinho e que cantava, mais alto, mais alegre e encantava a todos também. ‘’Agora, este, custa 150 reais, uma pechincha’’, seguia ele atraindo os olhares. E as apresentações continuavam como uma orquestra, e ao meio dos dois periquitos cantores estava o terceiro e mais acanhado dos periquitos, tão belo quanto os outros dois, mas esse calado, sem cantar, no máximo fazendo alguns sonzinhos aqui e outro acolá. Em meio as negociações para quem comprava os periquitos, alguém perguntou com o preço do periquito do meio. Ai, prontamente o vendedor disse que era 300 reais. Todos deram um sobressalto. ‘’Como??’’ E o cliente, assustado, sem entender como um periquito que não cantava poderia ser mais caro que os periquitos cantores ao seu lado, já que ele apesar de também ser lindo não cantava tanto quanto os outros. Pois é, sem pestanejar, o vendedor elevou a cantoria dos dois periquitos “tenores”, exaltando a potência da cantoria de cada um deles, e ao final emendou: ‘’Pois é, estes cantores, são o que são, graças ao periquito do meio. Pois, o do meio é quem treina os outros dois, ele é o que tem mais VALOR. Ele é o MAESTRO’’.
Não sei ao certo se realmente era um causo ou uma piada, pois, já ouvi esta história de inúmeras outras formas, com papagaios e outros bichos. Sei que ela sempre ficou na minha cabeça, não pelo humor ou esperteza do vendedor e nem pelo marketing das entrelinhas. Mas sim pelo valor atribuído ao conhecimento, mesmo que seja brincadeira de venda. Sempre fiquei me questionando se o mais importante é o PREÇO dado ou ao VALOR atribuído. O que se destaca mais, o PREÇO do periquito, por ser mais caro, ou o VALOR por representar algo a mais?
Sempre confundimos o PREÇO e o VALOR, justamente porque nem sempre somos ensinados ou instruídos a entender a diferença entre os dois conceitos. Normalmente somos induzidos a acreditar os dois conceitos têm mesmo significado, mudando apenas as atribuições, onde o PREÇO trata de uma relação financeira direta e o VALOR trata de uma relação mais subjetiva. E claro que essa indução é correta, mas não deveria ser tão simples. A atribuição do PREÇO das coisas vem de sua composição de custo, lucro, e a máxima da oferta e procura. Agora o VALOR não. Não se trata apenas da condição comercial de determinado produto ou serviço, pois, podemos envolver inúmeras outras coisas, como a condição de oferta do produto ou serviço, a importância para o cliente, a sua representatividade e as relações criadas.
Assim como temos inúmeros profissionais e produtos no mercado imobiliario que estão mais relacionados ao PREÇO, temos VALORES que deveriam ser lembrados. Todo o projeto tem seu PREÇO, constituído por horas trabalhadas, lucro do profissional e esforços atribuídos, mas como ficam os VALORES das ideias, do conhecimento profissional, da responsabilidade técnica, dos diferenciais inseridos ao produto ou serviço final. Infelizmente, a dinâmica do mundo nos tornou reféns do PREÇO de mercado, onde a velocidade e o baixo custo sempre viriam primeiro, falavam mais alto. Vimos produtos imobiliários sendo lançados sem critérios, sem responsabilidade técnica embutida e não preocupados em ter VALOR para o cliente. 16 anos de atuação junto ao mercado sergipano, e mesmo em alguns dos mercados nacionais, vimos que o PREÇO é o que importava. Mas aí chegamos em 2020. A “agonia” com o Covid-19 começou, a pandemia deu maior importância ao PREÇO, a sobrevivência? SERÁ??
Pois é, já se vão quase sete meses de 2020, e pouco mais de três meses adaptando-se as novas formas de trabalho, vivência e sobrevivência. Cadê a dinâmica do mercado, do dia a dia corrido, sem tempo para nada, onde o PREÇO estava atrelado aos serviços e produtos. Quero acreditar que a pandemia nos trouxe uma nova forma de encarar essa confusa conceituação de PREÇO e VALOR, onde deixamos de lado o superficial e passamos a enxergar o “a mais”. Aquilo que nos envolve e que nos complementa. Será que não chegou a hora de contratarmos profissionais que estejam prontos para resolver nossos problemas com VALOR e não apenas preocupados em nos vender seus PREÇOS.
O VALOR do canário Maestro não está na sua posição, mesmo que em forma de marketing, está no apoio dado aos outros dois. Como a apresentação dos periquitos e o processo de venda ficaria completo se não tivesse a surpresa de um periquito MAESTRO? Vender, prestar serviços, atender o cliente, ajudar o próximo deve ser o algo a mais, deve ser uma das respostas ao novo processo de adaptação que estamos vivendo. Seja MAESTRO de suas ações, cobre seu preço, mas não esqueça dos seus VALORES, e se ainda não os achou, esta é a hora de encontrá-los.

Expedito Júnior

Arquiteto e Urbanista

Sócio fundador da IMMOBILE Arquitetura

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